segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Nos tempos dos coronéis e mandadores santa-cruzenses - prefácio

A República Velha é um período conturbado da política brasileira muito importante para ser estudado. Ainda somos indiferentes em conhecer o nosso passado. Os erros, os conflitos e eventuais acertos não são avaliados para que as futuras gerações não repitam o que não deu certo e possam aperfeiçoar aquilo que foi planejado e ajudar a um futuro sem sobressaltos. O Brasil é um país "jovem" para os conceitos de outras nações com civilizações formadas há mais de dez séculos. 
A formação das cidades na região de Santa Cruz do Rio Pardo é algo que não ultrapassa há três séculos. Essa "Boca do Sertão" ou de "Terras de Índios Bravios", anotado em mapas do século 18, dá uma dimensão de como havia muito a desbravar na fase que começou a surgir as primeiras povoações que vão gerar as grandes riquezas oriundas da cafeicultura. 
Com a queda da monarquia nos fins do século 18, vamos experimentar a chegada dos novos ventos dos ideais da República, época de arejamento no pensamento político, de novos conflitos e repetições de vícios das oligarquias agrárias do regime monárquico.
O casal Celso e Junko Sato Prado decidiu buscar o nascimento de Santa Cruz do Rio Pardo e cidades do entorno, sob lideranças do que se apelidou de "República dos Coronéis", que foi responsável pelo surgimento das políticas públicas, a organização social dos pequenos povoados, a dualidade do homem político, o desequilíbrio de forças e muitas vezes a violência para tentar firmar uma convicção ou perpetuar o interesse econômico e a prosperidade pessoal.
Um trabalho admirável de pesquisa em arquivos de cartórios e documentos que são espécie de bússola e preservação da história.
Esses novos tempos da tecnologia da informação e de democratização dos dados disponibilizados na rede mundial possibilitaram a garimpar pela internet, no bom sentido como se lapida preciosidades, detalhes muitas vezes que estavam imprecisos e deturpados. Sem ilações de pseudo notório saber como ainda de dissemina em pequenas comunidades.
Celso e Junko decidiram dedicar, então, sem fins comerciais esses dias de aposentadoria a um diletantismo que acabou a contribuir com a historiografia regional, com influência para entender o contexto nacional. 
Esse microcosmo faz parte do encadeamento de um todo, que ainda havia uma dificuldade de resgatar essa epopeia regional por falta de uma estrutura de pesquisadores aptos a acreditarem que também se faz história falando de sua aldeia. Embora a rede mundial trouxe a facilidade de apenas em um 'clik' acesso a todo tipo de informação, faltava gente disposta a reunir e compilar milhares de dados para podermos enxergar o que foi esse passado nada tão glorioso, porém dentro de uma ótica de que como se processa o desenvolvimento das civilizações.
Assim o casal de memorialista, depois de suas incursões no resgate da formação de nosso povoado no pós descobrimento do Brasil com "Razias e incursões predatórias em territórios indígenas no Vale do Paranapanema, a partir do Pardo santa-cruzense", agora destaca o que foi o período conturbado do período dos coronéis, chefetes políticos forjados em eleições muitas vezes fraudadas no bico de pena e sustentáculo de um capitalismo agrário tardio. Esses mandatários políticos autoritários, fruto de um patrimonialismo que até hoje influência na política brasileira atual, precisa de ser estudado.
Infelizmente, a historiografia local na maior parte das vezes é descrita só de períodos lendários por influências de seus ancestrais que preferem que sejam omitidos os fatos desabonadores, ficando para as novas gerações a visão distorcida de sagas não meritórias o que atrapalha a ter um diagnóstico do período.
O casal Sato Prado rompeu com isso ao trazer os fatos, desmentir detalhes omitidos muitas vezes de propósito ou mesmo por falha de registro do dado histórico. Evitou também a ilação irresponsável do ouvir falar ou do pseudo notório saber para opinião sem respaldo na realidade.
Celso é detalhista, criou um sistema interessante que a todo momento está atualizando os dados. Todo o trabalho é disponibilizado na rede mundial, isso facilita eventuais correções de datas e possibilita retificações, mas também tem dedicado a publicar em livro, o que possibilita manter esse registro para as futuras gerações.
Outro detalhe desse casal é manter distância de eventuais financiadores seja público ou privado. Essa liberdade possibilita a buscar a verdade nos seus achados, com total responsabilidade pelo apego a sustentar com base em documentos.
O que chama atenção é que, ao remontar a história trágica do coronel Tonico Lista, acusado de mandar matar adversários e morto assassinado por um policial da Força Pública [hoje Polícia Militar], os memorialistas conseguiram trazer uma série de detalhes com base em processos, notícias de jornais da época e acrescentar um diagnóstico do período de um dos mandatários mais icônico na história de Santa Cruz do Rio Pardo, um enredo que merece ser roteirizado para um filme. Guardadas as devidas proporções, um enredo digno de uma película do velho oeste norte-americano.
O livro "Santa Cruz do Rio Pardo - nos tempos dos coronéis e mandatários" ajuda a compreender o que foi a adolescência da jovem democracia brasileira. 

a) Aurélio Fernandes Alonso, jornalista

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