Nome Antonio Evangelista da Silva, vulgo Tonico Lista.
Qualificação
Filho de João Evangelista da Silva
e de D. Marcolina da Silva.
Nacionalidade
brasileira.
Naturalidade
E. de S. Paulo
Local
São Simão.
Idade
(declarada ou apparente) 53 anos
Nascido
em ..... de ............... de ..........
Estado
civil casado.
Profissão
lavrador
Sabe
ler e escrever sim.
-Caracteres chromaticos etc.
Cutis
branca
Cabellos
grisalhos e rentes.
Barba
feita.
Bigodes
grisalhos
Sobrancelhas pretas
Olhos castanhos
Estatura
mais que mediana – 1m68
Corpo
franzino
Instrucção
baixa
Aspecto
social na vida ordinaria máo.
Residencia
declarada Sta Cruz do Rio Pardo.
-Marcas particulares, cicatrizes e tatuagens
Mão
direita ______________
Mão
esquerda ____________
Cabeça __________________
Costas ___________________
Obs _____________________
1.1. Folha de Antecedentes - transcrição
- 31
de Agosto de 1892 – Em casa da prostituta Maria Porfiria do Espirito Santo
feriu mortalmente Manoel Bispo de Araujo e gravemente Manoel Cyrino da Silva, tendo
sido denunciado, pronunciado e tendo respondido a Jury por esses crimes.
- 8
de Março de 1901 – Espancou, acompanhado de mais alguns indivíduos Augusto Luiz
de Camargo, tendo sido denunciado, pronunciado e tendo respondido a jury por
esse crime.
-
28 de Dezembro de 1904 – Foi preso preventivamente como mandante do assassinato
do capitão Jacob Antonio Molitor.
- 18
de Novembro de 1919 – Mandou espancar o Dr. Francisco Giraldes Filho, sendo
denunciado, pronunciado e tendo recorrido do despacho de pronuncia para o
Egregio Tribunal.
- 31
de Dezembro de 1919 – Acompanhado de seus perigosos capangas Christalino
Rodrigues da Silva e João de Paula Garcia, invadiu a casa de Theodorico José Teixeira
Franco, aggredindo a este fisicamente, tentando João de Paula apunhalar a
victima.
- Setembro
de 1919 – João Rapello, tendo vencido jornaes na construcção da matriz desta
cidade, e não tendo sido pago, foi ter a Antonio Evangelista da Silva,
encarregado das obras. Este depois de dirigir pesados insultos a Rapello, arrebatou um rabo de tatú da mão de
um preto, vibrando-lhe varias chicotadas. O Dr. Delegado, João Francisco de
Oliveira, fez sentir á victima o risco de vida que corria, se persistisse em
instaurar inquérito sobre o facto.
- Abril de 1915 – Benedito Carmagnani [Carramagnani],
sendo credor de Antonio Evangelista de 260,000 [reis] foi pedir o pagamento
desta quantia. Taes forão o bastante para ser aggredido pelo próprio Antonio
Evangelista da Silva, que lhe vibrou diversas cacetadas. Enquanto era aggredido,
a victima voltou para traz, deparando com João, menor de 13 anos, filho de
Antonio Evangelista que empunhava uma garrucha, apontando para a victima.
-
Fevereiro de 1918 – O Dr. Alvaro Camera, clinico e residente nests cidade foi
obrigado a retirar daqui, por ter Antonio Evangelista da Silva invadido sua
casa com alguns capangas.
-
Fevereiro de 1918 – Mandou Cyrillo e José Rocha matar a Joaquim Alves de Lara,
conforme ficou apurado incidentemente no inquérito, abaixo referido.
- 28
de abril de 1919 – Mandou Joaquim Alves de Lara assassinar José Antunes Rocha.
-
10 de janeiro de 1920 – Tentou aggredir, de revolver em punho, o menor Heitor
Pimenta, havendo nesse dia, intervenção da policia para que não se consumasse o
crime.
-
Fevereiro de 1921 – Manou cinco ou seis capangas, armados de carabina, obrigar
Severino José de Moura a sair com sua familia das terras que possue no sitio denominado 'Agua do Serrado', onde reside ha
30 annos.
-
20 de setembro de 1913 – Com a cumplicidade de seu cunhado Alfredo Antonio
Gonçalves, vulgo Nenê Narciso, mandou assassinar o fazendeiro José Antonio de
Moraes Peixe, cujo inquérito está em andamento. Para afastar as suspeitas,
Antonio Evangelista da Silva fez uma viagem a São Paulo, deixando suas ordens
criminosas, que foram fielmente executadas.
- É
publicamente indigitado como autor material e moral de innumeros crimes, violências
e attentados, conseguindo sempre, graças á sua habilidade para a pratica de
crimes, furtar-se á acção da justiça.
- 9
de Outubro de 1921 – Preso em virtude de mandado de pronuncia como mandante do
assassinato de José Antonio Rocha.
-
Por ocasião das eleições estaduaes realisadas no dia 20 de abril de 1922, em
frente a Camara Municipal, onde estavam installadas as mesas eleitoraes, houve
um conflicto entre as duas facções politicas, resultando mortes e ferimentos em
diversos indiviudos. Tonico Lista, para não perder ditas eleições preparou de
animo seus capangas para provocar o conflicto.
(...)."
Texto copiado e adaptado que permite leitura e compreensão do manuscrito, sem embaraços.
2. Da viúva Guilhermina - vida que seguiu
— "Criança ainda se unira a esse homem (...) [que] amava-a desde menina, desde o tempo em que a via brincando com suas irmãs em sua fazenda em Ilha Grande. Casaram-se.” (Rio, José Ricardo, 2004: 52 – textos extraídos e juntados).
Na fazenda Bairro Ribeirão Grande – município de Ilha Grande – depois Ipaussu, onde residiu Guilhermina com o coronel Botelho, foram encontradas covas com crianças enterradas na fazenda do coronel Botelho, no Bairro Ribeirão Grande. O caso teve desdobramentos, noticiados em 1902 (Correio do Sertão, 24/05/1902: 2), mas, as investigações findaram sem maiores detalhes, numa época que, se sabe, o coronel estava desgostoso e vivendo problemas outros, de cunhos político e financeiro.
Guilhermina e Victor, tudo indica, se conheceram através da família Piedade - membros radicados em Faxina [Itapeva] e Espírito Santo do Turvo, sendo a Rita, filha de Guilhermina, casada em 1926 com o rico e influente dr. Ataliba Piedade Gonçalves, filho do coronel Clementino Gonçalves da Silva com a senhora Maria Perpétua da Piedade.
Ataliba e sua mulher Rita, em 1940 perderam para o Banco do Estado de São Paulo uma fazenda em Espírito Santo do Turvo, doada pelo Coronel Clementino Gonçalves; em 1946 o mesmo Ataliba está associado e participa da empresa Otacilio Piedade Gonçalves (DOSP 02/10/1946: 28; nos anos 1950 era sócio da Companhia Americana Industrial de Ônibus e membro do Conselho Fiscal da mesma, presidida por José Piedade Gonçalves (DOSP 22/04/1950: 43); ou seja, envolvido numa série de malfadados negócios da família Piedade Gonçalves.
Nos anos de 1960 Celso Vieira, residente e domiciliado em Dracena, mas a mãe e consorte residentes à Rua Bela Cintra nº 328 - apartamento nº 20, vizinho ao nº 21 ocupado por Ataliba Piedade Gonçalves e esposa, sofrem ação de despejo movida por Paschoal Rugna (DOSP, 015/09/1963: 32), uma pendenga que perdurou até o final dos anos 1960.
"Portanto, na década por 70 [1970] e já por bom tempo as irmãs estavam residentes na capital paulista (...). Minha tia [nome omitido a pedido], mulher caridosa, vez ou outra, oferecia um almoço às velhas amigas que já passavam por necessidade." ( CD: A/A, 24/12/2012, sob sigilo de fonte). Documentos comprovam que a tia do informador residiu em Santa Cruz do Rio Pardo nos anos do segundo quinquênio de 1920 e foi amiga de Rita e Alice, reencontrando-se, depois, nos anos 1970 em São Paulo.
Publicações em periódicos paulistanos citam sua presença em eventos sociais ao lado de dona Guilhermina Brandina da Conceição.
Falleceu na madrugada de hontem, em Santa Cruz do Rio Pardo, para onde fôra recentemente em tratamento de saude, a senhora Guilhermina Brandina da Conceição Resse, esposa do sr. Victor de Almeida Resse, proprietario, residente nesta capital.A extincta, que era muito relacionada nesta capital e bem-quista no seio de suas relações, foi casada em primeira nupcias com o sr. João Baptista Botelho e em segunda nupcias com o cel. Antonio Evangelista da Silva, chefe politico de Santa Cruz do Rio Pardo.Deixa a extincta os seguintes filhos: d. Ritta Evangelista Piedade, casada com o sr. Ataliba Piedade Gonçalves, residente em Espirito Santo do Turvo; João Evangelista da Silva Netto e senhorita Alice Evangelista da Silva, residente nesta capital.Era irmã dos srs. Osorio N. Gonçalves, Antonio N. Gonçalves, Alfredo A. Gonçalves e Francisco A. Gonçalves, e das sras. dd. Clementina Gonçalves, Maria Julia Gonçalves, Carmelina Gonçalves e Palmyra R. Bueno." (Correio Paulistano, 19/07/1929: 7).
Em nota manuscrita da família Resse Pedroso consta uma anotação: "Dona Guilhermina falleceu no dia 18 de junho [sic] -1929-" (CD: A/A - Memórias de Família), com erro do mês que não altera a lembrança de dona Guilhermina no seio familiar Resse - vide cópia ao final do texto.
Não localizado, até outubro de 2024, documento que pudesse comprovar dona Guilhermina casada no civil com Victor Resse.
As principais versões sobre o assassinato de Antonio Evangelista da Silva – coronel Tonico Lista, apresentam divergências quanto ao local do ocorrido, que teria sido numa venda próxima do Banco Comercial – esquina da rua Conselheiro Dantas com a Avenida Tiradentes, ou, perto da antiga Câmara Municipal, na Rua Conselheiro Antonio Prado. Também são diferentes os motivos, desde vingança pessoal ou familiar a crime sob encomenda de grupo político, e, até, cogitado discussão ordinária de botequim (Documentos Diversos, Cópias Digitalizadas em Arquivos dos Autores - CD: A/A).
Algumas das principais versões, sobre o atentado e a morte do Lista, encontram-se na referência 9.23 da página disponibilizada no blogue http://santacruzdeantigamente.blogspot.com/2015/09/os-coroneis-e-mandatarios_6.html.
3.2. As duas únicas testemunhas presenciais
Manoel era filho do jornalista e advogado Manoel [Augusto] Faria Valença, maçom, negociante estabelecido em Santa Cruz do Rio Pardo com papelaria e tipografia, além do jornal Cidade de Santa Cruz, à Rua Coronel Emygdio José da Piedade, falecido aos 30 de setembro de 1921, idade de 42 anos, deixando viúva dona Ordália de Castro Faria e os filhos Manoel, Nair, Olympio, Maria de Lourdes e Haydée, além do sobrinho e afilhado residente com a família, Francisco Faria Mesquita (Correio Paulistano, 10/10/1921: 6).Embora amigo do coronel Tonico Lista, Manoel pai teve penhora e falência com perda total dos seus bens (A Ordem, SCR.Pardo, 18/08/1921: 2 e Diário Oficial de São Paulo – DOSP, de 21/03/1922: 2048), deixando a família em séria dificuldade financeira, mitigada graças aos auxílios da Maçonaria local (Memórias da Família Faria Valença, (...), obra manuscrita, CD: A/A), além do trabalho do primogênito Manoel, na tipografia que publicava o 'Cidade Santa Cruz', empresa até recentemente de seu pai.
O coronel Tonico Lista, apesar das dificuldades pessoais que atravessava, poderia ter auxiliado os Valença Faria, porém, não o fez, daí a mágoa da família, primeira geração, em relação ao coronel e a apagar das memórias o nome Santa Cruz do Rio Pardo. Manoel pai metera-se numa aventura em Santa Cruz a convite do coronel Lista, que atravessava terrível fase política, e Manoel lhe foi fiel escudeiro, endividando-se com a compra da tipografia e assumindo o controle do jornal 'Cidade de Santa Cruz', atacando adversários sem se importar com as perseguições e prejuízos financeiros que lhe moveram os inimigos e adversários do coronel.
3.3. Acontecimento conforme informado
Santa Cruz do Rio Pardo estava sob ordem do desarme obrigatório da população, desde o tiroteio defronte a Câmara Municipal em 29 de abril de 1922, medida que visava conter o coronel Lista e seus jagunços, mas, não os adversários.
Policiais vindos da capital eram os encarregados das revistas aos cidadãos, sempre acompanhados de um soldado local, de modo a distinguir situacionistas e oposicionistas.
Lista temeroso pela própria sorte, conforme relatado pelo seu amigo Lindolpho Ferdinando de Assis procurara pelo Secretário da Justiça e Segurança Pública, dr. Francisco Cardoso Ribeiro (O Estado de São Paulo, 14/12/1922: 20), pedindo-lhe proteção e garantia de ter à sua disposição, em sistema de revezamento, um policial do destacamento local, onde todos os praças conhecidos, à mesma maneira que o soldado Francisco Alves, vindo recentemente de São Paulo, porém, nascido e criado na zona rural do antigo município santa-cruzense, descendente de família bastante conhecida.
População desarmada e sempre um policial, guarda-costas armado, a acompanhar Lista por onde quer que fosse, nisto facilidade para assassiná-lo em lugar ideal onde pudesse estar mais relaxado e desatento, por isto, escolhido o comércio do Mizael de Souza Santos, onde a vítima fazia uma parada, todos os dias, sempre que presente em Santa Cruz; dali havia a possibilidade de fuga do assassino para correr, atravessar a praça, e se colocar a salvo, no prédio da Delegacia de Polícia/Cadeia Pública. Caso pensado e amadurecido.
Francisco Alves chegou a Santa Cruz do Rio Pardo com a combinação expressa em assassinar o coronel Tonico Lista, sob promessa de paga o suficiente para adquirir um bom sítio, ou, em caso de revés, o dinheiro repassado à viúva, garantiam-lhe; caso fosse preso em flagrante que confessasse o crime a mando.
Naquele 08 de julho de 1922, o jovem Manoel acompanhou o olhar ligeiro do coronel Tonico Lista sobre um dos seus adversários que passava em frente ao estabelecimento acenando, como saudação, ao Francisco Alves em guarda na porta, e, depois, outro homem, também antagonista político do coronel, em direção contrária ao primeiro, de igual modo a cumprimentar o militar; algo estranho, os adversários do coronel evitavam passar num local que ele pudesse estar. Lista levantou-se agitado, falando alto das suas suspeitas, enquanto se dirigia rápido ao balcão onde, escondido, um revólver.
Mero pressuposto, Lista ao alcançar sua arma talvez não tenha visto o Alves vindo atrás de si, de arma em punho ou a retirá-la do coldre, então, entre a hesitação e a certeza do que lhe aconteceria, o coronel abriu fogo acertando o policial que também atirava. Lista alvejou o Alves num dos ombros enquanto recebia um balaço na altura do estômago, a sentir o baque e dar um giro de corpo, já em queda ao chão, quando o segundo tiro o atingiu, nas costas.
Alves, ferido, correu em direção à praça pública para atravessá-la e chegar à delegacia de polícia, do outro lado, enquanto Manoel em desabalada carreira descia a Rua Conselheiro Antonio Prado até a Rua Saldanha Marinho e daí à Rua Emygdio José da Piedade, onde residia.
Recordações santa-cruzenses ditam um homem correndo em direção contrária à do soldado, pela Rua Conselheiro Antonio Prado, e rumo ao Rio Pardo pela Saldanha Marinho, trajeto feito por Manoel Filho até a Rua Coronel Emygdio José da Piedade (CD: A/A).
3.4. A família de Faria Valença deixou Santa Cruz do Rio Pardo
O jovem Manoel, aconselhado pela mãe e uso do bom senso, deixou Santa Cruz, com destino a São Paulo; nada de se estranhar quanto a atitude de um jovem receoso pelos acontecimentos, e, pouco depois a família também deixaria o lugar para morar em Dois Córregos antes de radicar-se na capital.
Toda a Santa Cruz estava tomada de espanto e temor pela morte do Tonico Lista, e ninguém queria se comprometer; até o vendeiro Zaeca alegou ausência, no momento do tiroteio, por coisa qualquer, aos fundos do comércio.
Um dos membros da família Faria de Valença, em visita a Santa Cruz do Rio Pardo, entrou em contato com os autores em busca de dados e trocas de informações, expedientes e documentos sobre Manoel Augusto de Faria Valença, com algumas referências sobre o Manoel Filho, conhecido por Maneco, um homem traumatizado, distante da família e da própria esposa, com mania de perseguição de sombras do passado e, num momento de desespero, atentou contra a própria vida, no entanto, socorrido, sobreviveu vindo a falecer anos depois de causa natural.
3.4. Opiniões de quem sabe
Pela versão oficializada do atentado contra Lista e sua reação, profissionais em lesões por projéteis de arma de fogo, área médica e peritagem de balística forense, apontam probabilidade próxima de zero para pessoa, antecipadamente ferida por dois tiros de revólver [calibre 38], reagir à maneira descrita (CD: A/A).
A transcrição do Laudo Necroscópico e do Corpo de Delito assentada por José Ricardo Rios não esclarece detalhes (Rios, op.cit, pgs 165/166).
Registros Eclesiais
https://www.familysearch.org/
2. Jornais
http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx
3. CD: A/A - Cópias de Documentos em Arquivo dos Autores.
4. Santa Cruz de Antigamente - referências
http://santacruzdeantigamente.blogspot.com/2015/09/bibliografia.html
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