segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Os coronéis e mandadores - 06

'Era Vargas' - 1930/1945. Créditos: youtube.com
O prefeitos durante as interventorias
Na denominada 'Era Vargas', de 1930 a 1945 com efeitos até 1946, Getúlio regulamentou o controle por ele exercido sobre as interventorias federais nos estados, os quais, por sua vez, nomeavam os prefeitos municipais.
Somente a partir de 1930 surgiram as prefeituras como hoje se conhece, firmadas no estado de São Paulo pelo decreto nº 4.781, de 29 de novembro de 1930, modificado e consolidado pelo decreto nº 4.810, de 31 de dezembro de 1930, tendo por supedâneo o Decreto Federal n° 19.398, de 10 de novembro de 1930.
A prefeitura ocupou o prédio da câmara - paço municipal, durante todo o período de interventoria.
O sistema interventorista aplicado pós-revolução de 1930, tornaria frágil o poder legislativo municipal, supresso na época, e fez forte o poder executivo. Aliás, nem Câmara existia. 
Em Santa Cruz do Rio Pardo são destacados dois nomes de prefeitos nomeados pelas interventorias, primeiro o médico Abelardo Pinheiro Guimarães - de 1930 a 1935, e depois o Leonidas 'Lulu' Camarinha, de 1938 a 1946, e a eles o objeto maior deste estudo. 
No entanto, antes, entre eles e pós eles, de 1930 a 1946, outros assumiram a chefia do executivo santa-cruzense, ora interinamente - sem oficialidade, ora por nomeações e, até, por eleições, quando um rápido período de ensaio democrático em 1936, findado em 1937, quatorze meses.

1. Abelardo Pinheiro Guimarães
Abelardo Pinheiro Guimarães nasceu aos 10 de janeiro de 1897, no Rio de Janeiro, filho de Joaquim Tibiriçá Pinheiro Guimarães - 2º Oficial de Secretaria do Ministério das Relações Exteriores do Brasil – e de Cecília Roxo Pinheiro Guimarães.
Vocacionado, ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, trabalhando como revisor de jornal enquanto estudava. Formado, ingressou na Fundação Rockfeller para combater 'moléstias rurais', em diversas localidades nos estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná, onde classificado para a cidade de Jacarezinho.
Deixou o emprego optando pelo exercício particular da profissão, ainda em Jacarezinho, vindo casar-se com Dagmar Ferreira, filha de José Eugenio Ferreira e Augusta Fortes. Após o casamento transferiu-se, com a mulher, para Santa Cruz do Rio Pardo onde nasceram os filhos:
-Maria do Carmo Guimarães Camarinha, casada com Josué Francisco Camarinha que viria ser advogado e oficial do 3º Cartório de Notas de Marília - SP;
-Marcio Ferreira Pinheiro Guimarães - solteiro;
-Marcílio Ferreira Pinheiro Guimarães, casado com Florinda Quagliato Pinheiro Guimarães, casal residente em Santa Cruz do Rio Pardo;
-Moacir Pinheiro Guimarães, casado com Maria Regina Sad Pinheiro Guimarães, moradores em São Paulo.
Enviuvado, Abelardo casou-se com dona Maria Marcelina Pinto [Pinheiro Guimarães], com a qual teve quatro filhos: 'Abelardo Antonio, Heloisa Maria, Silvia Maria e Cecília Maria.'
O médico teve participação na política santa-cruzense, ingressando no Partido Democrático, grei essencialmente paulista, vindo da dissidência 'perrepista' de 24 de fevereiro de 1925, e sua primeira experiência política ocorreu nas eleições federais de 24 de fevereiro de 1927, quando seus candidatos Marrey Junior para deputado federal e Gama Cerqueira para senador, ficaram com 91 votos em Santa Cruz, enquanto os três candidatos 'perrepistas' a deputado federal obtiveram 530 votos cada, quantidade igual para o senador Arnolpho Azevedo.
A eleição de 1927, em Santa Cruz, teve pico de violência registrada na frase do dr. Pinheiro Guimarães: "Em matéria de política, sou partidario do assassinato. Considero a elliminação do adversario um meio regular de triumpho." (A Cidade, 06/03/1927: 1). 
Pinheiro Guimarães apresentou-se candidato a vereador nas eleições municipais de 30 de outubro de 1928, e, para melhor exposição de suas ideias políticas e partidárias, fundou o semanário 'O Jornal' redacionado por Rui Gama e Silva. Eleito vereador tornou-se líder oposicionista ao PRP, melhor avultado pelas críticas ao governo municipal que por sua atuação parlamentar.
Com a vitória dos revoltosos 'getulistas', na Revolução de 1930, Pinheiro Guimarães conquistou o cargo de prefeito, por nomeação do Governo Interventor de São Paulo, coronel João Alberto Lins de Barros, pelo Decreto de 31/12/1930 (DOSP, 03/01/1931: 49), selando o fim do coronelismo no mando da política local, com a cassação e prisão de Leônidas do Amaral Vieira. 
A nomeação de Pinheiro Guimarães aconteceu em razão do apoio do Partido Democrata local à candidatura de Getúlio Vargas, nas eleições presidenciais de março de 1930, conquistando 10% dos votos santa-cruzenses.
À derrota de Vargas nas urnas sucedeu a 'Revolução de 1930', com singelo apoio do PD, todavia importante por ser contra o PRP e suas hostes no estado paulista.
Vitoriosa a 'Revolução Varguista', em Santa Cruz criou-se a 'Comissão Legionária', sob o comando de Urias Augusto Ribeiro. Urias, cumpridor de ordens emanadas do gabinete da prefeitura e do próprio dr. Abelardo Pinheiro Guimarães comparte com o delegado de polícia, tenente Alfredo Fernandes Costa, e assim, uma série de denúncias e delações promovidas contra cidadãos santa-cruzenses e, em especial, funcionários públicos das três esferas de governo, num típico terrorismo oficial.
A 'Comissão Legionária' ou 'Legião Revolucionária', independente do objetivo para qual sua finalidade, em Santa Cruz fez-se órgão repressivo e delator sobre ações e atividades coletivas ou individuais, para o fortalecimento e a popularização revolucionária varguista. O núcleo legionário seria a representação das aspirações do município, com influência no executivo, judiciário e segurança pública.
Santa Cruz experimentou o período de 'caça às bruxas', iniciado com perseguição ao juiz de direito, dr. Sylvio Marcondes de Moura, afastado do cargo e disponibilizado em São Paulo, por ordem do secretário da justiça, dr. Plinio Barretto. O juiz, tenente Eugênio Fortes Coelho, gaúcho, substituiu o dr. Moura.
Na onda de prevaricações e arbitrariedades, numa delas o prefeito Pinheiro Guimarães, com apoio do judiciário e através da 'Legião Revolucionária', destituiu toda a diretoria Clube dos Vinte - reduto do tenente-coronel Leônidas do Amaral Vieira - e afastou associados que não lhe eram simpáticos.
A 'Comissão Legionária' mostrou-se implacável a serviço do dr. Pinheiro Guimarães.
O coletor federal Manoel Novaes Cortez foi acusado de desvios de recursos da repartição, entre outras imputações, e afastado das suas funções.
O coletor estadual Antonio Alóe sofreu mais de uma dezena de delações e foi exonerado; e, ainda, delatados ao Tesouro do Estado os cidadãos Jayme Castanho de Almeida e Benedicto Carlos da Silva.
Da delação de Urias em relação a Benedicto Carlos, antes amigos, terminou em luta corporal, quando o Benedicto desferiu bengaladas em Urias e, em seguida, atirando com arma de fogo enquanto Urias evadia-se do local (A Cidade, 28/06/1931: 4).
Leônidas Camarinha, outro alvo da política de Pinheiro Guimarães, processou Urias, porém a ação anulada pelo juiz Fortes Coelho, bem relacionado com o executivo santa-cruzense no período.
A queda do interventor Lins de Barros e a nomeação do magistrado Laudo de Ferreira de Camargo trouxe esperanças aos oposicionistas.
O nomeado ao sujeitar-se às exigências 'perrepistas', abriu oportunidade para os opositores santa-cruzenses exercerem influência na política estadual, e assim assumiram a presidência e secretaria da 'Comissão Legionária', com Oscar Buscacio e Benedito Carlos da Silva.
A nova 'Legião Revolucionária' de Santa Cruz tentou oposição a Pinheiro Guimarães, porém sem forças suficientes para derrubar o governo local, que mantinha excelentes relacionamentos no judiciário e na segurança pública, através das autoridades locais, o juiz de direito e o delegado de polícia.
Mas, o líder legionário local, o tenente-coronel Leônidas do Amaral Vieira, preocupava o governo municipal. A anistia concedida por Vargas a todos envolvidos nos movimentos revolucionários – Decreto Federal nº 19.395, de 08 de novembro de 1930, permitia ao poderoso rival assumir a condição de liderança política, agora de oposição.
O juiz Fortes socorreu Pinheiro Guimarães revelando irregularidades administrativas cometidas por Amaral Vieira quando prefeito: "O inquerito que se processa na Camara Municipal desta cidade, revela indicios fortissimos de uma administração prevaricadora." (Santa Cruz Jornal, 22/05/1932: 1).
Amaral Vieira debateu-se e praticamente esqueceu-se de Pinheiro Guimarães, criando vazio político oposicionista ocupado por Leônidas Camarinha.
Pinheiro Guimarães usou de truculência política ao interferir na direção da Escola Normal, nomeando pessoas de seu interesse político, além de uso do semanário 'O Trabalho', para promover seus ataques e desqualificações de adversários, às vezes pessoas apolíticas.
Na 'Revolução Constitucionalista de 1932', Pinheiro Guimarães fez-se omisso, enquanto muitos companheiros seus abraçaram a causa paulista, inclusive o gaúcho, juiz de direito Fortes Coelho, ao lado de adversários políticos.
'Do governo ao povo', assim Guimarães pretendeu a ideologia moldada ao seu próprio conceito, firmado em ideias vagas e naufragadas pela própria situação brasileira na época, em especial a do município.
Sua administração foi utópica, algumas propostas ou pretensões irreais, enquanto umas e outras, mais coerentes, que seriam adaptadas e aproveitadas pelo sucessor.
O prefeito até pensou numa cidade industrial, moderna e dinâmica, buscada nos estudos da Empresa Mauá S/A, prevendo inclusive a pavimentação marginal para o Rio Pardo e Ribeirão São Domingos.
Mas a Santa Cruz de 1934 não tinha abastecimento de água nem rede de esgotos, as ruas não eram asfaltadas, o município era pobre e endividado desde e com o ramal ferroviário, além da convivência cara e dramática com erosão à margem do São Domingos, em plena área urbana.
Sem realizações de peso, o governo de Pinheiro Guimarães foi considerado medíocre, tanto que sua exoneração, acontecida aos 25 de junho de 1935 (DOSP, 27/06/1935: 4), deu-se em meio a grande regozijo popular (A Cidade, 30/06/1935: 1-4, 'Prefeitura que se esborôa'), substituído interinamente por Alzim de Souza Lemos, até a posse do nomeado.
O Partido Constitucionalista - PC, do qual Pinheiro Guimarães um dos fundadores, provocou sua queda, já antecipada pelo Correio Paulistano:
—"DIRETORIO PC – Havendo grande desharmonia entre os políticos pceistas, embarcaram na semana passada, para a capital, todos os membros daquele directorio que pleiteiam a retirada do actual prefeito municipal, dr. Abelardo Pinheiro Guimarães, que, com quanto prefeito deste municipio desde 30, até hoje nada tem feito para o município." (Correio Paulistano, 19/06/1935: 9).
Abelardo Pinheiro Guimarães, no entanto, não abandonou a política e tornou-se oposição sistemática, como membro do Partido Constitucionalista, tendo por ele concorrido a Deputado Estadual, sem êxito.
Com a democratização do país, em 1945, Pinheiro Guimarães estava entre os fundadores da UDN - União Democrática Nacional, da qual Presidente, e, posteriormente, viria ser presidente do Partido Social Progressista - PSP, fundado por Adhemar de Barros, e pleiteou vaga na Câmara Federal, não alcançando resultado.
Em 1944 a imprensa noticiava que o ex-prefeito era contra o asfalto, juntamente com o farmacêutico Alziro de Souza Santos e outros partidários 'constitucionalistas', que se recusaram pagar as prestações do asfaltamento na cidade.
Memórias 'udenistas', em justificativa posterior, bem mais recente, sustentavam que Abelardo, Alziro e demais companheiros, eram contra o asfaltamento antes das instalações das redes de água e esgoto, porém a história registra aqueles serviços antes da pavimentação asfáltica.
Abelardo também se posicionou contra a cobrança de taxa de calçamento pelo município e o processo chegou ao Supremo Tribunal Federal, pelo Recurso Extraordinário nº 8.782, cuja decisão, aos 13 de julho de 1948, considerou "constitucional a cobrança pelos Municípios da taxa de calçamento."
Se não foi político brilhante, Dr. Abelardo Pinheiro Guimarães marcou época em Santa Cruz do Rio Pardo como profissional de saúde, e empresta seu nome a uma Unidade de Saúde, a um edifício comercial e a uma via pública. Faleceu aos 80 anos, em 1° de dezembro de 1977.
—Com a Revolução de 1930 e o Decreto de Vargas, de 11 de novembro do mesmo, dissolvendo as Câmaras Municipais e, consequentemente, 'cassando' os prefeitos, Urias Augusto Ribeiro, Serventuário do Tabelionato de Notas e Anexos de Santa Cruz do Rio Pardo, respondeu pelo expediente da prefeitura municipal - de 12 de novembro a 31 de dezembro de 1930.
—Alzim de Souza Lemos, Secretário da Prefeitura Municipal - vinculado ao Partido Democrático (Diário Nacional, SP, 05/09/1928: 1), respondeu pelo expediente do executivo entre 26 de junho a 06 de julho de 1935.  

2. Tertuliano Vieira da Silva
Membro do Partido Constitucionalista, nomeado prefeito, por Decreto (DOSP, 27/06/1935: 4), em lugar do exonerado Abelardo Pinheiro Guimarães, assumindo cargo aos 07/07/1935 (Correio Paulistano, 12/07/1935: 9 - por depreendimento), exonerando-se aos 08 de julho de 1936 para assumir cargo de vereador.
Bastante midiático, valendo-se de jornais paulistanos, procurou engrandecimentos para continuar no cargo:
—"(...) Tertuliano Vieira, um dos mais antigos e dedicados lutadores em pról do progresso da cidade. Sua contribuição para o desenvolvimento local é imprecidível. A elle se deve, em grande arte, a rapida e victoriosa implantação do Partido Constitucionalista naquella cidade (...). 
O sr. Tertuliano Viera conta hoje, com o mais decidido e franco apoio do governo estadual e dos illustres proceres peceistas Abreu Sodré [Dr. Antonio Carlos] e Dante Del Manto, sendo também, o candidato da população local ao proximo pleito municipal. Santa Cruz do Rio Pardo exige sua permanencia á testa dos negocios do municpio." (Correio de São Paulo, 05/12/1935: 3). 
Não logrou êxito e, pouco depois, deixava o município.

3. Jayme Castanho de Almeida
Conforme a Constituição Estadual de São Paulo, de 1935, em seu Art. 64 - "O órgão executivo do Município é o Prefeito, eleito por quatro anos, pela Câmara Municipal, dentre os vereadores, ou não, mediante voto secreto, sendo vedada a reeleição." Se a escolha recaísse sobre um vereador, o suplente seria convocado para substituí-lo.
Esvaziado o poder legislativo desde 1930, em 1936 a euforia santa-cruzense era geral, com previsões de eleições ainda em 1936: "Desde 24 de Outubro, há quase seis anos, as nossas Municipalidades, devido a malfadada revolução de 30, vem sendo discricionariamente entregues a correligionários do P.C. [Partido Constitucionalista] sem que o povo seja ouvido nem consultado nesse sentido." (A Cidade, 08/03/1936: 1).
—E as mulheres iriam votar, pela primeira vez, num pleito municipal, elas que já haviam votado em 03 de maio de 1933 para a Assembleia Constituinte. Cumpria-se a inclusão proposta por Vargas na reforma eleitoral de 1931, realidade em 1932, sendo o voto permitido às mulheres alfabetizadas. Na Carta Magna de 1891, já alguns constituintes - trinta e um deles, assinaram emenda ao projeto conferindo direito do voto à mulher, mas, tal emenda, rejeitada.
—A Constituição de 1934 incluiu as viúvas e solteiras - com idades própria, que exercessem atividades remuneradas, sendo que as casadas somente poderiam votar com autorização do marido. Muitas mulheres santa-cruzenses se inscreveram eleitoras em 1934.
—O voto feminino era facultativo, o que viria ser mudado em 1935, com a obrigatoriedade, ainda que apenas àquelas que que exercessem trabalhos remunerados; às demais continuava a ser facultativo, às casadas as autorizações devidas, e, somente com o Código Eleitoral de 1965 o voto feminino foi igualado ao masculino.
Aos 07 de junho de 1936 houve eleição para a Câmara Municipal, firmada na lei estadual nº 2434, de 16 de dezembro de 1935, cuja posse aos 09 de julho do mesmo ano, sendo eleitos: 'Abelardo Pinheiro Guimarães, Accacio Trindade de Mello, Alziro de Souza Santos, Eduardo Lorenzetti, Gabriel Botelho de Souza, Geremias Camillo de Godoy, Jaime [Jayme] Castanho de Almeida, Leônidas Camarinha e Tertuliano Vieira da Silva' (Câmara Livro Ata, 1936). 
—Três partidos políticos disputaram o pleito municipal santa-cruzense de 1936, o 'Partido Constitucionalista - PC' com quatro vereadores eleitos; o 'Partido Municipalista Independente - PMI' com três eleitos; e o 'Partido Republicano Progressista - PRP, sigla sem vinculação com igual anterior', com dois eleitos. Após negociações entre os partidos para a escolha do prefeito municipal, aos 25 de julho de 1936 PRP e PC votaram unidos no perrepista Jayme Castanho de Almeida, para o cargo que deveria durar quatro anos, podendo, no entanto, ser cassado pela própria câmara mediante 2/3 dos votos, renúncia, enfermidade incapacitante ou morte. O suplente de vereador, Benedicto de Castro Piedade, assumiu cadeira no lugar de Jaime Castanho de Almeida 
—No intervalo entre a saída de Tertuliano e a posse de Castanho de Almeida, responderam pelo expediente do executivo, pela ordem, Ricardo Campbel, e José Carlomagno.
No mesmo ano de 1936 iniciaram-se as discussões para a redação do 'Regimento Interno da Câmara', adequado às regras federais, evidenciando um executivo forte como representante legal do município. Os longos anos sem câmara davam aos vereadores a importância em legislar, com interesses, a favor da municipalidade.
Destacou-se nesta fase relevante discussão camarária, aos 10 de outubro de 1936 para a aquisição de quatro datas de terras na então avenida Silva Jardim [atual Cyro de Mello Camarinha], para edificação do novo prédio para a cadeia pública, e a reconstrução do velho edifício para acomodações dos cartórios nele existentes ou necessários (Câmara, Parecer Legislativo nº 9, de 1936).
Castanho de Almeida não suportando a pressão camarária, renunciou ao cargo de prefeito numa sessão camarária extraordinária. aos 11 de janeiro de 1937, sendo eleito para substituí-lo o professor Joaquim Gomes dos Reis, eleito por oito votos.  

4. Joaquim Silverio Gomes dos Reis
Eleito prefeito, o professor Gomes dos Reis surpreendeu a todos, com excelente ritmo político e administrativo, destacando-se como planejador e executor de obras: 
-Pensou e discutiu a instalação do serviço de abastecimento de água do município, obra não efetivada por ausência de concorrentes (Lei Municipal nº 14, de 15/02/1937).
-Serviços de esgotos com fossa asséptica e poço absorvente, à margem direita do Pardo pela rua Marechal Bittencourt, aonde "(...) os exgottos existentes nas ruas Marechal Bittencourt, Conselheiro Dantas, Euzebio de Queiroz, serão ligados ..." (Lei Municipal nº 22, 21/04/1937), em obediência ao Código Sanitário Estadual.
-Desapropriou imóvel do advogado Celso Vieira, à rua Saldanha Marinho, nº 282 (Lei Municipal nº 21, de 16/04/1937), para anexação à praça [Rui Barbosa] existente (Correio Paulistano, 23/06/1937: 12) - atual Major Antonio Alóe.
-Tornou de utilidade pública a ponte sobre o rio Turvo.
-Criou a 'Escola para Adultos' - alfabetização masculina junto ao prédio da 'Congregação Mariana' (Lei Municipal nº 18, de 01/03/1937).
-Deu auxilio à 'Associação dos Mutilados Constitucionalistas de São Paulo - Revolução de 1932' (Lei Municipal nº 19, de 30/03/1937).
-Concedeu bolsa de estudo de 40% aos alunos filhos de funcionários municipais matriculados na 'Escola Normal Livre de Santa Cruz'.
Outra vez em pauta os serviços de abastecimento de água, extensão da rede de esgotos e asfaltamentos de ruas, com projetos prontos, quando Getúlio Vargas deu novo de golpe ao decretar o 'Estado Novo', e a Câmara cassada aos 10 de novembro de 1937, e, outra vez, os prefeitos seriam nomeados, acontecimento local com exoneração de Joaquim Gomes Silverio dos Reis e a nomeação de Leonidas Camarinha (DOSP, 24/06/1938: 5).
  
5. Leônidas Camarinha
Leônidas Camarinha, conhecido por 'Lulu' Camarinha, filho de João dos Santos Camarinha e de Alexandrina Camarinha, de família vinculada ao 'Partido Republicano Paulista - PRP', onde o seu irmão Pedro Camarinha um dos expoentes nos anos de 1920.
Provisionado pela Ordem dos Advogados do Brasil e escrevente habilitado do juízo da direito da comarca de Santa Cruz do Rio Pardo (A Cidade, 28/03/1926: 3), a saga política de 'Lulu' Camarinha iniciou-se na Revolução de 1930, quando preso com outros santa-cruzenses, para fazer-se líder a partir de 1938, atraindo e revelando importantes nomes da política local, a exemplos de Lucio Casanova Neto, Onofre Rosa de Oliveira, Carlos Queiroz e Joaquim Severino Martins, entre outros, que se tornaram sucessores, dissidentes ou não, e determinadores políticos do lugar até o final do século XX. 
Herdeiro ou seguidor político do irmão, Pedro Camarinha - o coadjutor, primeiro do coronel Tonico Lista e depois do Leônidas do Amaral Vieira, 'Lulu' recebeu o apoio dos saudosos do coronelismo 'perrepista', conquistou os descontentes da administração de Pinheiro Guimarães (1930/1935), que vislumbravam possibilidades ainda no Governo Getúlio - o 'getulismo' extraconstitucional - para a promoção de interesses próprios.
Neste tripé político, típico caudilhesco e de interesses ideológicos distintos, Camarinha teve cinco anos de oposição para firmar liderança política e acercar-se de nomes influentes nos setores tradicionais da sociedade. 
Midiático, 'Lulu' Camarinha, de líder político perrepista em 1934, vereador opositor na câmara eleita em 1936, torna-se a prefeito nomeado pelo interventor paulista, Adhemar Pereira de Barros, pelo Departamento das Municipalidades - Decreto de 23/06/1938 (DOSP, 24/06/1938: 3), cuja posse em grande estilo aos 03 de julho de 1938 (Correio Paulistano, 05/07/1938: 5), para solidificar em Santa Cruz a 'Era Camarinha' que perduraria por décadas.
Tinha estilo político comunicacional, agradava os eleitores e empolgava até adversários, e fazia largo uso dos microfones da 'Rádio Audição Pública' na atual Deputado Leônidas Camarinha; e depois, do 'Serviço de Alto-Falantes – SAF', mesmo endereço; e, por fim, da 'Rádio Difusora Santa Cruz', concessão que lhe foi dada para tornar-se sócio proprietário. 
Nos tempos do líder político Leonidas do Amaral Vieira, através do seu lugar-tenente o advogado Pedro Camarinha, instalou-se um 'aparelho radiotelefônico, receptor e emissor via alto-falantes', tipo cornetas, numa sala térrea do edifício hoje de três pavimento, à rua Conselheiro Antonio Prado ou atual Praça Deputado Leônidas Camarinha, para serviços de som, voltada a espaços publicitários pagos por empresas privadas interessadas, anúncios avulsos, e informes da prefeitura - de utilidade pública, que custeava maior parte dos gastos e gerava lucros.
—A radiotelefonia tornou-se 'Radio Audição Publica', em 1932, após a edição do Decreto Federal 21.111, de 1º de março de 1932, regulamentando a execução dos serviços de radiodifusão, nele enquadrando-se a radiotelefonia, como radiocomunicação, por meio de palavras ou sons, livremente recebidos pelo público, voltada para o entretenimento, com exigências em manter níveis civilizados e não atentatórios à moral e cidadania, etc, e de retransmitir programas educacionais e oficiais de governo, com liberdade em divulgar notícias captadas das emissoras das capitais.
—A 'Rádio Audição', com maior alcance e qualidade de som - com os alto-falantes colocados no alto do prédio, alcançava praticamente toda a cidade, daí a melhora de sua grade de programação envolvendo noticiários, musicais, incentivos culturais, participações públicas 'ao vivo', maior comercialização de espaços para propagandas particulares, e, num gesto autoritário do prefeito Abelardo Pinheiro Guimarães, as programações eram censuradas e as transgressões sujeitas a punições, inclusive fechamento, o que parece nunca ter ocorrido, diante da obrigatoriedade das divulgações publicitárias gratuitas de atos do governo municipal, e dos informes de interesse público.
—A 'Radio Audição', propriedade oculta do tenente-coronel Leônidas do Amaral Vieira, era empresa em nome do advogado Pedro Camarinha e por ele administrada. 
—Com a queda do governo Abelardo Pinheiro Guimarães e a nomeação de Leonidas Camarinha como prefeito nomeado, a Rádio passou a ser vitaminada com recursos públicos.
Ano a ano, de 1939 ao final de seu governo municipal, fez publicar todos os seus feitos de administrador público, como prestação de contas à população, inclusive com edições pela Livraria Acadêmica de São Paulo - Saraiva e Cia, comparando sua administração com a anterior e mostrando, exercício a exercício, o progressismo municipal. 
O prefeito Camarinha também fez uso político do esporte, pela 'Associação Atlética Santa-cruzense', a quem beneficiou com a desapropriação de terrenos para a construção de estádio que levaria o seu nome, projeto inserido num pacote de obras, como a construção de um parque infantil – Decreto-Lei Municipal de nº 12, de 20 de dezembro de 1940, e, numa etapa seguinte, a construção da 'Nova Santa Casa' - que se tornou o Hospital Maternidade 'Dona Maria Perpétua Piedade Gonçalves' - Decreto Municipal nº 48, de 26 de outubro de 1944.
O parque infantil e o hospital, concluídos, mas não o estádio de futebol que parte se tornou praça, parte escolas, além dos terrenos dentro da área acertada conforme referido decreto-lei.
'Lulu' fez-se, via dinheiro público, financista e mantenedor do hebdomadário 'A Cidade', em 1941, quando deixou de ser vinculado a um partido político para dizer-se independente.
Como prefeito, também pelo município, foi um dos patrocinadores da obra de Leo Azeredo ("Cidades que renascem 1943: 61-63"
, edição única, de grande porte, custeada por associação de municípios cujos prefeitos apologizados, e todo um capítulo para Santa Cruz, com exaltações à terra, ao trabalhador, ao progresso devido ao aumento populacional, ao incremento agrícola – algodão e cereais e a intensificação comercial e industrial na sede do município. 
Azeredo informou das construções de novos prédios comerciais, residenciais e públicos, das medidas de saneamento básico, da fiscalização e aplicação equitativa das rendas municipais, priorizando as atenções à saúde pública – prevenção, vacinação e profilaxia, ao sistema educacional, a estrutura ferroviária disponível e das estradas de rodagem, sem se esquecer a população de 62 mil habitantes, sendo doze mil na área urbana e outros restantes na zona rural, praticamente reprodução do que Leônidas já informara dois anos antes: "A cidade de Santa Cruz do Rio Pardo acusa aproximadamente um total de 10.000 almas enquanto a zona rural do município é 'habitat' para outras 50.000." (Prefeitura, Índice de Avaliação e Estatísticas, Governo Leônidas Camarinha, 1940: 11); e o fecho dado por Azeredo foi o óbvio, sem rodeios: 
—"Agora uma pergunta se impõe: a quem se deve o reerguimento daquela velha cidade, que nada mais era que um 'burgo-velho', ainda, há pouco mais de quatro anos? 
Ao seu atual prefeito, dr. Leonidas Camarinha, cuja administração tem encarado com rara energia. (...). Em toda a parte avultam as suas realizações que fazem vibrar de contentamento a alma de seus concidadãos."
Para, então, arrematar: "Leonidas Camarinha é bem o espírito construtivo da estirpe bandeirante."
Pela vontade do Leônidas, Santa Cruz teria 60 mil ou mais 'almas', enquanto o censo oficial de 1940 revelava 44.578 moradores.
À frente do executivo soube aproveitar a oportunidade para remodelar a cidade e concretizar ações de saneamento básico, fazendo-se prefeito tocador de obras vistas e divulgadas, como a pavimentação da cidade, as reformas de prédios públicos, implantação do serviço público de água e rede de esgoto – enfim, em parte resolvido, arborização e modernização das praças principais, das quais a central hoje traz seu nome.
Também foi o grande responsável pela fundação do Aero Club Santa Cruz, presidido por Benedicto Carlos da Silva, e a instalação do hangar (
O Estado de S. Paulo, 22/07/1939: 6. DOU, 25/04/1942: 6853 - deferimento). 
Audacioso, da mesma forma formou o Aero Club Rio Turvo, em Espírito Santo do Turvo, cuja diretoria formada por moradores daquela localidade e de Santa Cruz do Rio Pardo (DOSP, 27/02/1941).
Para cada feito de governo uma "Comissão Patrocinadora de Homenagens", 'voluntária e independente', organizava festejos e desfiles, diurnos e/ou noturnos - marcha luminosa - precedidos de alunos, escoteiros, professores e normalistas, comerciantes e autoridades, conforme uma apologética matéria veiculada na grande imprensa paulista (O Estado de S. Paulo, 22/07/1939: 6).
Leônidas sobreviveu, politicamente, a queda do seu padrinho Adhemar de Barros, em 1941, continuando prefeito em Santa Cruz do Rio Pardo, durante o governo do interveniente Fernando Costa (1941/1945), porém exonerado pelo nomeado seguinte, dr. José Carlos de Macedo Soares (1945/1947), através do Decreto de 17 e publicado aos 18 de abril de 1946, sendo no mesmo ato nomeado prefeito o médico Pedro Cesar Sampaio.
O prefeito Camarinha foi exonerado no governo Macedo Soares:
—"(...) com a divisão do estado em zonas de influências políticas a cidade de Santa Cruz foi incluída no distrito do sr. Cesar Vergueiro.” (...). "Ora, o sr. Silvio de Campos, não sabemos bem porque motivo, resolveu intervir na política daquela cidade e para isso aproveitou a ausência do sr. Cesar Vergueiro no Diretorio Central, e fez a remessa do oficio ao interventor com a indicação do novo prefeito." (Jornal de Notícias, 23/04/1946: 3).
A exoneração de 'Lulu' Camarinha aconteceu por telefone: "Mario Tavares [Presidente da Executiva do PSD e simpático a Silvio de Campos] telefonou do Banco do Estado ao encarregado da Secretaria do Partido, solicitando a demissão dos prefeitos de Santa Cruz do Rio Pardo e São Pedro do Turvo, com a indicação de novos titulares(Jornal de Notícias, 05/05/1946: 6), com urgência, dispensando parecer do ausente Cesar Vergueiro [a cuja ala pertencente o município de Santa Cruz do Rio Pardo]. 
A queda do Camarinha. deixou um vazio político santa-cruzense, ante a ausência de um líder capaz de pacificar adversários e companheiros; causou estragos na política local e na interventoria.
Enquanto o prosseguimento da crise política, Leônidas Camarinha fundou a 'Rádio Difusora Santa Cruz' (ZYQ-8), concessão em 1946, em sociedade com o comerciante João Queiroz Junior e o bancário José Antonio Ramos, para desta maneira concentrar em suas mãos a imprensa santa-cruzense, escrita e falada, e dela fazer uso político, aprontando-se para disputar vaga na assembleia legislativa e eleger-se deputado estadual, com 4.262 votos, para a legislatura 1947/1950. 
Como parlamentar envolveu-se na eleição municipal de 1947, para fazer prefeito eleito o indicado Lúcio Casanova Neto, além de maioria na câmara.
Camarinha não teve atuação parlamentar destacada, em nenhum de seus mandatos, apenas apresentando projetos de impacto popular, muito mais para Santa Cruz e região, como destinações de verbas para obras assistenciais, aos esportes e à construção do hospital, a 'Nova Santa Casa', que já se dizia 'Hospital Maternidade', de caráter privado embora construído e equipado com dinheiro público na quase totalidade.
Inteligente, manteve seu nome em muitas edições do Jornal de Notícias, publicitado na coluna 'Flagrantes da Assembleia', de humor político satírico; e se reelegeu deputado, mandato de 1952/1955, pelo Partido Social Progressista – PSP, com 5.848 votos.
O PSP foi renomeado em 1947, para o 'Partido Republicano Progressista - PRP', de Adhemar de Barros, que não deve ser confundido com o extinto 'Partido Republicano Paulista - PRP", embora raízes os vinculem.
Outra eleição estadual, legislatura 1956/1959, e Leônidas novamente deputado eleito com 6.590 votos, sendo que nessa disputa teve a rivalidade municipal de José Osíris Piedade, o Biju, lançado candidato pela UDN - União Democrática Nacional, que não ultrapassou os 600 votos.
Na legislatura, de 1956/1959, o Camarinha cometeria dois erros políticos em prejuízo a Santa Cruz do Rio Pardo, primeiro ao consentir e atuar favoravelmente para a redução territorial do município, em favor da localidade de Ourinhos, com a perda da Usina São Luiz e, consequentemente, arrecadação; noutro desacerto, negou apoio político regional ao então candidato para governo paulista, Jânio da Silva Quadros, afinando-se com Dr. Adhemar de Barros, uma aposta que não deu certo.
O salário mínimo, na época, era regional, sendo o de Santa Cruz superior ao de Ourinhos, havendo então interesse econômico da empresa adotar o município ourinhense.
O deputado Camarinha denunciara "violencias fiscais da Fazenda Estadual em uma usina de Santa Cruz do Rio Pardo.)" (
Ultima Hora, 18/11/1959: 4), exatamente por estas questões, e daí a proposta e aprovação de novas divisas entre os dois municípios. 
O salário mínimo, desde sua criação, era dividido por regiões e sub-regiões: "Quando da sua criação em 1940, até meados da década de 1980, existiram vários níveis regionais para o salário mínimo, havendo ocasiões onde o maior valor era quase o triplo do menor valor ." (Franco, 2000: 1-2).
—Foram implantados 14 salários mínimos, diferentes para cada região do país, às vezes dentro do próprio estado. Em 1963 já eram 38 salários mínimos diferentes no Brasil, distribuídos nas diversas regiões e sub-regiões, recebendo reajustes diferenciados ao longo dos anos. Apenas em 1984, o mínimo foi unificado no país, mas hoje já existem diferenças. 
O primeiro caso rendeu votos a Camarinha na eleição seguinte; e no segundo, Jânio foi o eleito e, em represália ao deputado, vetou aqui a implantação do 'Instituto de Letras e Filosofia', em 1957, autorizando-o para Assis onde, acrescido dos cursos de História e Psicologia, fez-se o conjunto originário da atual 'UNESP - Julio de Mesquita Filho'.
Do assunto, Teófilo Queiroz Filho assim resumiria: "Por razões políticas (o nosso representante na Assembleia Legislativa, o deputado Leônidas Camarinha, teve um desentendimento político com o governador), a faculdade foi para Assis e não para Santa Cruz." (
Debate, 07/11/2004, entrevista com Teófilo Queiroz: 'Professor recebe título de Cidadão Emérito').
Outra cinca, aponta o Camarinha distribuidor de falsos diplomas pela Escola Normal de Santa Cruz, e favorecera parentes e apadrinhados políticos, locais e de outras regiões, casos denunciados que obrigaram incêndio criminoso na secretaria da escola, ateado por dois funcionários, Walter Biel e Benedito Camarinha Machado, consumindo os livros e documentos que pudessem atestar as falcatruas.
Leônidas teve que se explicar junto ao então governador dr. Jânio da Silva Quadros, através da 'Secretaria de Educação', e não sem razões o insinuavam 'incendiário', pecha dada desde a queima da sede da UDN santa-cruzense (
Jornal de Notícias, 08/01/1948: 3), a seu mando.
—Versão brandecida do incêndio na Escola Normal conta que Leônidas tão somente acorrera em favor daqueles dois servidores públicos, e que o fogo adveio de problemas elétricos.
Diante das atitudes políticas de Leônidas Camarinha, a desfavor do município, teria acontecido a dissidência, em 1957, liderada por Lucio Casanova Neto, Anísio Zacura e Onofre Rosa de Oliveira, abrigando-se na legenda do Partido Democrata Cristão - PDC, unido à UDN contra o grupo Camarinha, e Onofre Rosa de Oliveira foi eleito, em 1959, prefeito municipal tendo por vice José Osíris Piedade – Biju.
Leônidas Camarinha não perdoou o líder dissidente e fez chegar ao ministério público, em 1959, denúncias de desvios de dinheiro, materiais e medicamentos, ocorridos durante a gestão do antigo aliado, Lucio Casanova Neto (1956/1959), referente a repasse de diferenças de fretes do ramal sorocabano a favor do Município, ocorrido aos 10 de abril de 1957.
Leônidas 'Lulu' Camarinha, reeleito para a Assembleia Legislativa, Deputado Estadual (1959/1963), pela coligação PSD/PSO, com aumento significativo de votos, com 9.996 eleitores, e veio à forra contra o grupo de Lúcio Casanova, e em 1963 viu elegido o genro, Carlos Queiroz, para prefeito, e o sobrinho engenheiro, José Carlos Nascimento Camarinha, para vice.
Este foi o seu último grande feito político.
No pleito de 1966, para a Assembleia Legislativa - 1967/1970, Leônidas foi desistido nas urnas, com apenas 4.027 votos, enquanto o rival Lúcio Casanova Neto assumiu cadeira com 12.925 votações.
O grupo político de Leônidas, segundo denúncias de adversários, envolvera-se em escândalos político-administrativos, carreado por Cyro de Mello Camarinha, então processado por desvios de verbas públicas e peculatos, e José Carlos Nascimento Camarinha, acusado e preso por subtração de materiais e superfaturamento em obras do governo, além de outro Camarinha, o Benedito, complicado na onda de falsos diplomas escolares e incêndio na secretaria da escola.
A denominada 'época política Camarinha', após três décadas, chegava ao fim em outubro de 1969, com a trágica morte do ex-prefeito Carlos Queiroz, herdeiro político de Leônidas.
Camarinha, após a política, dedicou-se aos negócios particulares, gerenciando o Frigorífico Santa Cruz que possuía, em sociedade, visto em 1968 (
DOSP: Publicações em Ineditoriais de 25, 27 e 30/01/1968), e depois em 1970 com as saídas e entradas de sócios:
—"511.419 – Frigorífico Santa Cruz Ltda. Santa Cruz do Rio Pardo – Retiram-se Jamil Abdalla, Luiz Coronado Rubio, João Homero Alcantara, José Theodoro de Andrade, José Pedron, Guilherme Zacura, Alicio Peixoto, Jeronimo Peres Milian, Antonio Maximiniano de Souza, José Pais de Oliveira, José Renofio e José Dias Vieira – Capital de 162.000,00 entre Hideo Yoneda, Leonidas Camarinha e Wilson Gargioni com 39.054,00 cada – Narciso Nardo 22.264,00 – Arlindo Nardo c/16.890,00 e Carlos Vasques Freire, c/ 5.784,00 ." (DOSP, 31/01/1970: 11)
O velho caudilho possuía, em sociedade, outros segmentos de serviços, por exemplo, o comércio varejista de combustível, com dois postos de revendas - um [por tempos chamado de 'Posto do Pelé'] na avenida Tiradentes esquina com a atual rua Catarina Etsuko Umezu, e outro, o Posto Confiança I, ao final da Euclides da Cunha esquina com a Simão Cabral.
Consta, também, Leônidas Camarinha como membro do conselho fiscal da Itacolomy de Automóveis S/A (DOSP/Ineditoriais, 02/04/1966: 32), e, ainda, do conselho fiscal, remunerado, da empresa Companhia Americana Industrial de Ônibus, nesta constando o empresário Otacílio Piedade Gonçalves, diretor presidente; José Piedade Gonçalves, diretor gerente; e Ataliba Piedade Gonçalves, como associado, entre outros (
DOSP, 22/04/19540: 43). 
Com Leônidas, em 1946, findou o período dos coronéis e mandadores na política santa-cruzense, e, já no ano seguinte, as eleições municipais seriam diretas, pelo voto popular.

6. Mario Botelho do Amaral
O ato da demissão de Leonidas Camarinha, desprestigiou Vergueiro, o fundador do 'Partido Socialista Democrático - PSD' no ano anterior, 1945, que não fora consultado, todavia, num acerto de cúpula partidária 'pessedista', se resolveu que o diretório municipal de Santa Cruz indicasse o prefeito a ser nomeado, recaindo escolha sobre o Mario Botelho do Amaral, fazendeiro residente na localidade e benquisto socialmente, cujo nome referendado pelo Diretório Central do PSD, todavia o interventor Macedo Soares se recusou nomeá-lo, gerando nova crise de governo (Diario da Noite, 14 de maio de 1942: 3).
Indicado e tido como certo para ocupar o cargo de prefeito, Botelho do Amaral não foi nomeado; retornaria depois.

7. Pedro Cesar Sampaio
Macedo Soares, numa manobra política ligeira para debelar a crise, nomeou o médico e político Pedro Cezar [Cesar] Sampaio, seu amigo.
—Macedo Soares tinha fazenda na região e era bastante relacionado com os políticos santa-cruzenses.
A nomeação de Cesar Sampaio provocou tremenda crise política em Santa Cruz do Rio Pardo, inclusive a causar dissidência no 'PSD-paulista', obrigando recuo do interventor e tornar sem efeito a nomeação, aos 17 de maio de 1946, antes mesmo da posse.
Cesar Sampaio, aparentemente, compreendera as razões do amigo, sem aparentes mágoas entre eles, mas, bem esclarecido, não houve de sua parte desistência do cargo.
O ato em tornar sem efeito a nomeação de Cesar Sampaio, causou danos ao governo estadual, com a autodemissão de Romeu Tortima, diretor do 'Departamento das Municipalidades'.

8. Mario Campos Pacheco
No lugar de Pedro Cesar Sampaio o interventor paulista comissionou, como prefeito, 'Mario Campos Pacheco', no sistema 'intervenção branca' em Santa Cruz do Rio Pardo.
São vistos vários documentos oficiais assinados por Campos Pacheco, a partir de 06 de junho a 03 de dezembro de 1946.
O governo Campos Pacheco conviveu com o problema da imigração pós-guerra, os refugiados, instalados nas grandes fazendas e distritos, que necessitavam de cuidados preventivos de saúde além da necessidade da educação e socialização. Para isso, na sede do município a instalação de uma agência da 'Administração de Assistência e Reabilitação das Nações Unidas - United Nations Relief and Reabilitation Administration - UNRRA', para prestações de serviços assistenciais e de auxílios aos imigrantes, entidade anteriormente vinculada à 'Liga das Nações Unidas' - agora 'Organização das Nações Unidas -  ONU'. 
—O município, firmado nas recomendações do governo brasileiro, decretou isenções de impostos à referida UNRRA e seu pessoal profissional técnico/administrativo (Decreto-lei nº 69, de 06/06/1946). 
O prefeito nomeado, pelo Decreto-lei nº 71, de 15 de outubro de 1946, instituiu a criação da Comissão de Arbitramento de Aluguel, no município, considerando a obrigatoriedade de seu Ato pelo Decreto-lei Federal nº 9669, de 29 de agosto de 1946.
A Comissão de Arbitramento de Aluguel, subordinada ao prefeito, seria composta por três membros, entre funcionários do município, cumprindo ao chefe do executivo designar um dos respectivos membros para dirigir a Comissão.
—"Os pedidos de arbitramento de aluguel deverão ser dirigidos pelos interessados à referida Comissão, sob forma de requerimento e com a indicação do aluguel pretendido ou já convencionado provisoriamente pelas partes, para efeito de pagamento da taxa de arbitramento de aluguel instituída nos termos do artigo 25, do decreto-lei Federal nº 9.669, de 29 de Agosto de 1946, à razão de dois dias de aluguel arbitrado, até o máximo de Cr.$ 1.000,00 (uns mil cruzeiros)."  
Significava que todo aluguel combinado entre as partes deveriam passar pelo crivo da Comissão, mediante taxa de arbitramento. Uma intromissão nos negócios privados, medida antipática a todas as partes, e os protestos e reclamações recaíam sobre o prefeito e 'sua' comissão.
Campos Pacheco era um cidadão de fora, que a população entendia alheio aos problemas do município, não passando de um 'cumpre-ordens da interventoria' ou mesmo do governo federal.
Mario Campos Pacheco foi dispensado, a pedido, por Decreto de 04 de dezembro de 1946 (DOSP, 05/12/1946: 3 - Departamento das Municipalidades), e, pelo mesmo Ato nomeado o Mario Botelho do Amaral, nome de consenso. 
—Campos Pacheco foi, também, prefeito em Ourinhos, assim citado em janeiro de 1946 (A Voz do Povo, Ourinhos, 19/01/1946: 1). 

9. Mário Botelho do Amaral
Poucos meses depois daquele mês de maio de 1946, quando teve sua indicação para prefeito rejeitada pelo interventor Macedo Soares, agora, aos 04 de dezembro do mesmo ano Botelho do Amaral, numa nova indicação, viu-se nomeado para assumir o cargo de prefeito
Fazendeiro bem integrado à sociedade, conhecido por todos e bom sabedor dos aflitivos problemas do município era o nome desejado para a chefia do executivo.
Assumiu a prefeitura numa administração, voltada para o social, concedendo auxílios às instituições, tratando-se de verbas próprias consignadas no orçamento (Decreto-lei nº 76, de 13/12/1946):
-Posto de Higiene Estadual - hoje Centro de Saúde;
-Caixa Escolar do Grupo Escolar; 
-Caixa Escolar do Curso Primário anexo à Escola Normal;
-Escola Normal - pagamento de aluguel de salas ocupadas pela Secretaria;
-Associação Esportiva da Escola Normal - com alvará de funcionamento;
-Associação Esportiva Santacruzense - com alvará de funcionamento;
-Santa Casa de Misericórdia;
-Leprosário Aimorés de Bauru;
-Colégio Dominicano, para amparo à maternidade e infância;
-Colégio Companhia de Maria, para amparo à maternidade e infância;
-Roupeiro da Lestonac do Colégio Companhia de Maria, para amparo à maternidade e infância;
-Santa Casa de Misericórdia, para amparo à maternidade e infância;
-Associação Vicentina;
-Legião Brasileira de Assistência;
-Corporação Musical Municipal;
-Agência de Telégrafo - aluguel do prédio.
O último decreto-lei assinado por Botelho estabelecia as delimitações urbanas e suburbanas dos distritos de Caporanga e Clarínia (Decreto-lei nº 82, de 06/02/1947).
Já no apagar das luzes de seu tempo como prefeito, em março de 1947, fato marcante na passagem de Botelho do Amaral à frente do executivo santa-cruzense, quando se pensou em demolir o prédio da velha cadeia pública e construir um novo, em outro lugar, decorrido de uma denúncia pelo jornal 'A Cidade' (09/03/1947: 1), matéria intitulada "Uma Tremenda Batalha de Higiene", fundamentada numa carta que a redação recebera dos encarcerados, reclamando "claramente a miseria, o desconforto, o desleixo, o abandono moral e material em que se acham os detentos da Cadeia Pública de Santa Cruz do Rio Pardo".
Um trecho da carta dizia: "Nesta cadeia o carcereiro é o nosso medico, é também o nosso dentista e o nosso barbeiro!..", e o repórter redator exaltava a figura do policial guardião transmitindo o sentimento dos missivistas: "Eles ressaltam, eles defendem, eles glorificam, mesmo a pessôa do carcereiro, que tudo faz para minorar-lhes o sofrimento, chegando mesmo a mandar fazer por sua propria conta, alguns concertos mais urgentes".
O delegado de policia na época, Nelson Otávio Leitão, procurado pela reportagem do semanário, "declarou-nos ser do seu conhecimento esses fatos mas que nada poderia fazer, pois aguardava a construção de um novo predio".
A opinião daquele órgão de imprensa era que, diante da denúncia dos presos e o reconhecimento do delegado, inclusive quanto à necessidade um novo prédio, a situação premente "não podia ficar para ser solucionada nestes 3 ou 4 anos esperando esta construção, procuramos o snr. Mario Botelho do Amaral, digno prefeito municipal".
O prefeito Mario Botelho do Amaral  "imediatamente autorizou o nosso jornal a verificar a urgencia dos reparos, o que fizemos, fazendo uma visita à cadeia para verificar o fato. (...). O que ali vimos é desolador. Os encarcerados vivem mesmo 'dentro de um verdadeiro chiqueiro!'-". 
Após a constatação dos fatos, "O snr. Prefeito Municipal já autorizou o inicio dos serviços nos xadrezes, o que será feito amanhã, segunda feira". 
O governo de Botelho do Amaral mostrou-se eficiente e transparente, mas o município possuía muitas dívidas e isto empacava sua administração no atendimento aos distritos e zona rural, propulsores da economia do município, mas, a territorialidade era grande e as cobranças inevitáveis
Sem condições de continuidade, Botelho solicitou e teve sua exoneração publicada (DOSP, 12/03/1947: 8), sendo substituído pelo secretário da municipalidade, João Ferreira Vasconcellos (A Cidade, 16/03/1947: 1). 

10. João Ferreira [de] Vasconcelos
O Departamento das Municipalidades do Estado de São Paulo trouxe publicação que o Interventor Federal, José Carlos de Macedo Soares, exonerou Mario Botelho do Amaral, a pedido, do cargo de prefeito municipal de Santa Cruz do Rio Pardo. 
No mesmo Ato, se deu a nomeação do secretário da prefeitura, João Ferreira [de] Vasconcellos, para substituir o exonerado no cargo de prefeito municipal, em comissão, com prejuízos dos vencimentos de seu cargo de secretário, porém, assegurado os direitos das demais vantagens (DOSP, 12/03/1947: 8).
Já, aos 18 de março de 1947,  João Ferreira foi exonerado do cargo de prefeito municipal e substituído por Francisco Gonzaga de Oliveira (DOSP, 20/03/1947: 1).
Retornou ao cargo de secretário do executivo, do qual, em verdade, nem chegou a sair.

11. Francisco Gonzaga de Oliveira
Nomeado aos 20 de março de 1947 para o cargo de prefeito em Santa Cruz do Rio Pardo, Gonzaga de Oliveira tomou posse no mesmo dia, perante o senhor Barone Mercadante, Diretor Geral das Municipalidades (Correio Paulistano, 21/03/1947: 3).
—Gonzaga de Oliveira era comerciante e presidente do diretório do Partido Social Progressista - PSP.
Pelo decreto de 02 de junho de 1947, do Interventor Adhemar de Barros, Francisco Gonzaga de Oliveira solicitou e teve aceita sua exoneração do cargo de prefeito, e, em seu lugar, pelo mesmo Ato, nomeado Philadelpho Aranha Junior (DOSP, 03/06/1947: 1).
Nada consta dos feitos de Gonzaga de Oliveira como chefe do executivo, senão 'tocador de expediente para não deixar a casa fechar'. Continuou presidente do PSP local.

12. Philadelpho Aranha Junior
Nomeado prefeito aos 02 de junho de 1947, e exonerado a pedido conforme publicação de 21 de agosto de 1947 (Correio Paulistano, 21/08/1947: 4).
Não tinha perfil de bom administrador na vida privada, nem demonstrou qualquer empenho na pública.
Pouco tempo à frente do executivo, sua melhor atuação foi reorganizar o quadro do funcionalismo público municipal (Decreto-lei nº 83, de 08/07/1947), trabalho conjunto das equipes de contabilidade e secretaria da municipalidade.

13. João Palmas Villas Boas 
Villas Boas, funcionário contador da prefeitura, assinou documentos da municipalidade como responsável pelo expediente, a exemplo da lei nº 84, de 10 de outubro de 1947. 
Nota do Exército Brasileiro dispensa João Palmas Villas Boas do cargo de Diretor do TG 233 de Santa Cruz do Rio Pardo, face sua exoneração do cargo de prefeito a 31 de outubro de de 1947 (Jornal de Noticias, 15/11/1947: 4), substituído por José Osiris da Piedade, prefeito nomeado e novo Diretor do TG.
—O prefeito municipal, é o Diretor 'oficializado' do Tiro de Guerra, ainda nos dias atuais.
Palmas Villas Boas tem sua biografia registrada por Wilson Ferrazini Junior (CD: A/A - gentileza de Geraldo Vieira Martins Junior). 

14. José Osiris Piedade
Conhecido vitalício do Cartório de Registro de Imóveis de Santa Cruz do Rio Pardo, herói na Revolução Constitucionalista de 1932, José Osiris Piedade sempre se destacou nos meios social e político, participando de alguns cargos eletivos, como vice-prefeito, prefeito e deputado. Viria ser vice-prefeito na administração de Onofre Rosa de Oliveira, numa histórica união política local, a UDN de Biju - José Osiris Piedade, com Partido Democrata Cristão - PDC de Onofre Rosa de Oliveira.
Em 1947 Osiris - o Biju, foi prefeito nomeado para Santa Cruz do Rio Pardo (Correio Paulistano, 31/10/1947: 4), assumindo partir de 01 de novembro de 1947, até a posse de Lucio Casanova Neto, o primeiro prefeito santa-cruzense eleito pelo voto direto.
-o-
Contato: pradocel@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.